segunda-feira, 20 de abril de 2009

O que torna uma poesia o espírito de seu tempo?

Trago uma poesia de Fernando Pessoa, de 1928, um ano antes da Grande Depressão americana e antes da formação dos estados nacionalistas e ditatoriais por Hitler, Mussolini, Franco, Salazar e... Vargas (citando os mais expressivos...). O texto está em sua forma original.

OS CASTELLOS

A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta em que se appoia o rosto.

Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

Inventei de substituir Portugal por Brasil nesse último verso. E talvez o caminho da euforia econômica até a incerteza devida à crise que se tem mostrado nos jornais me levaram ao seguinte sentido: o ocidente, finalmente, pode ser visto por terceiro-mundistas - Portugal era o patinho feio da Europa -, exatamente na hora em que jaz.
Reconheço que a minha leitura pode (quiçá deve) estar errada.
Mas são curiosas as semelhanças: o cotovelo "inglês" pode se referir à dependência do poder econômico, político e tecnológico, enquanto o cotovelo "italiano" ao cultural, tradicional e religioso. E a mão, símbolo-mor do poder, é a do cotovelo saxão; pois o outro o cotovelo fica "recuado".
Os olhos filosóficos, tristes lá, cá otimistas, observam silenciosos os seus erros. E vários são os estudiosos cuidam disso.
Será possível trocar o nome de qualquer país por Portugal? Será que a situação da modernidade consegue fazer valer essa poesia em qualquer situação? O que torna uma poesia o espírito de seu tempo?

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