segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ubiqüidade: trema o domingo seu lugar na semana!

Obnubilamento hebdomadário

Era domingo!
Dominus diem.
Sim, o dia do Senhor. O dia em que cada servo se torna, ao menos por algumas horas, senhor de si; por obrigação tendo apenas um grau de religiosismo a quê as palestras não-obrigatórias logo dão um ar de burocracia cultural assestada na aldeia. É, mas os tempos são outros e os domingos não são de descanso. Ainda menos de prece ou agradecimento. Ou talvez seja dos dois. Sei lá! O domingo assume a inteira incompreensilidade do enfaro em si. É isso, um dia enfarado. E como há tempo não usava essa palavra convém lembrar que o homem nesse tempo é terra arrasada, ferro fundido, ar rarefeito e a certeza de uma instância perpétua-pois-sensível chamada anima, ego ou methabollismus. O enfaro é assim a hora morta. Não é enfado porque enfado é intenso, breve e mobiliza a consciência de alguém à sensação plena de enfado e não a de si mesmo. O enfaro não se põe assim. Não gosta de ser objeto. Mas de fazer seu alvo sentir-se e, destarte, nublá-lo sem que perceba. Quando vê, o dia se foi. O enfado é a torrente e o enfaro a garoinha teimosa. Obnubilamento hebdomadário! Domingo maldito! Qual! E agora fico cá, à espera da quebra desse torpor...
Ainda é domingo.

Dominus vobiscum!
Isso pode ser chamado de dissertação literária?

domingo, 12 de julho de 2009

Dedetizei teus argumentos para que brotassem moscas da tuas palavras. Seus pensamentos me cheiram a ratos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Umas máximas quaisquer...

Queria ter posto um pouco mais de empenho na busca, mas ficarei com alguns aforismos, máximas, adágios não-populares, preceitos que se auto-destroem, axiomas que precisavam ser demonstrados - ou seja lá qual for o raio de sinônimo pelo qual venham a pretender chamar as proposições breves - extraídos de Além do bem e do mal, em que Friedrich Nietzsche compõe um capítulo somente com essas sentenças "intempestivas" e "extemporâneas".
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Os dois primeiros versam sobre o assunto que popularizou a obra de Nietzsche: sua relação com Deus e com a religiosidade.
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É com seu próprio Deus que as pessoas são mais desonestas: não lhe é
permitido pecar.
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"Como? Isto não significa, falando de modo popular: Deus está refutado, mas o Diabo não?" Pelo contrário, meus amigos! E, com os diabos, quem os obriga a falar de modo popular?
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Um rebate à crítica. Comentário no jornal dobrado do domingo amarrotado, depois de tomar café, provavelmente.
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Este aqui..., é no mínimo curioso.
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Foi uma sutileza que Deus aprendesse grego quando quis se tornar escritor - e que não o aprendesse melhor.
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Talvez Nietzsche, como filólogo que era, estivesse traduzindo algum fragmento original da Bíblia em grego quando fez este apontamento. Se é isso, foi o Espírito Santo que o fez reconhecer essa fragilidade dos textos divinos na língua de Platão.
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Objetividade é um valor absoluto incapaz de recolher aquilo que se pretende ser a verdade. Aos que o defendem:
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Uma coisa que se esclarece deixa de nos interessar. - Que queria dizer o deus que aconselhou: "Conhece a ti mesmo"? Isto significava talvez: "Deixa de interessar-te por ti! torna-te objetivo!" - E Sócrates? - E o homem científico? -
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Tão frio, tão glacial, que nele queimamos os dedos! Toda mão se sobressalta ao tocá-lo! - E justamente por isso muitos o tomam por ardente.
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Em toda filosofia há um ponto no qual a "convicção" do filósofo entra em cena: ou, para falar na linguagem de um antigo mistério:
adventavit asinus pulcher et fortissimus [chegou o asno belo e muito forte].
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Seria a convicção que arrefece outras possibilidades o realce de uma verdade?
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Para completar - e irritar as leitoras do blogue -, um comentário literário desse filósofo marrento, como certa vez o classificou um amigo meu:
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Das antigas novelas florentinas - e também da vida: "
buona femmina e mala femmina vuol bastone" [boa ou má, a mulher quer bastão]. Sachetti, nov. 86.
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Por alguma razão acho que algum tradutor no processo todo há-de se ter enganado..., afinal, também o texto de Nietzsche percorre caminhos similares aos de uma bíblia para chegar até nós...
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Inda inté!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tempo, tempo, tempo, mano velho...

Reflexões sobre o tempo em Sartre
Sidney Azevedo
As similaridades que encontrei entre o meu atual modo de encarar as coisas e o de Antoine Roquentin me forçaram a começar este texto. Se quisesse me livrar fácil da questão da pretensa universalidade do existencialismo poderia falar qualquer coisa sobre a projeção do leitor no texto ou me valer de algum bobo conceito de identificação. Mas esse maldito personagem sartreano me inquieta demais, principalmente agora.
Poderia ter acontecido, em alguma experiência futura, que a leitura de A náusea me revelasse um livro bobo. É essa uma relação com o tempo. Ou não? Não importa, deu-me vontade de falar do tempo e não posso perder o momento presente em um contato desaparecido com a idéia que eu queria escrever ainda há pouco. Pois a náusea surge, no livro, sempre que Roquentin se vê em angústia com o presente - se bem que náusea e angústia nesse livro são sinônimos. Sim, com o presente. O passado e o futuro são entes confortantes. E são bem isso: entes. Lá o passado se forma das coisas prontas, das idéias que basta convocar certo de que virão. O passado é fruto da certeza. E o futuro é outra criatura que vem com a certeza, a certeza das nossas previsões sobre o que aconteceria. Mas o tempo verbal futuro é enganador. Tudo o que para nós termina com "iria", "eria" ou "aria" só se torna possível por conta da veritas credente, a crença na verdade do discurso.
Embora o diário do pequeno-burguês francês seja repleto de referências ao sempre, ao nunca, àquilo que era e àquilo que será, temos noção de que essas coisas são transitórias, inconsistentes e que só mesmo o apego a elas nos seria capaz de gerar segurança. Porque a verdade toda é o presente, a existência breve e próxima, e que só escapando a ambos é possível ser o que se admira como "determinado". A covardia de fugir do presente é o que é louvado pela História, a de agá maiúsculo. Porque enfrentar o presente na radicalidade, reconhecer que há apenas uma sala em torno de si e um sem-número de equipamentos inúteis todos é classificado como loucura. Desde a moral kantiana temos um preconceito contra o presente: ela nos instiga a procurar entender o que se passa e prever as ações de outrem para agirmos conforme tornando em lei aquilo que a máxima da nossa vontade determina, ou seja, se baseia no passado de ações para buscar o futuro possível. Desde Platão sofre o presente: corpo e alma, terminologia que jamais deveria ter caído em relações metódicas, que estabelece paralelismos de realidade, um céu e um inferno inconcebíveis para além da mitologia metafórica de ensinamento. Não é à toa que Nietzsche exige a morte do átomo. Principalmente daquele que menos se considera, a alma. E a brilhante idéia que me surge agora: a alma é a consideração de um presente futuro, além vida, além do próprio futuro.
O caráter dessa palavra, inclusive, possibilidade, é já burguês (naquele sentido em que os comunistas falam). Nela, a capacidade de especulação determina a inteligência de alguém. E especulação é o jogo com o futuro, em que os mercados financeiros se apóiam negociando dinheiro que não existe. Sim, há níveis de presentidade, e qualquer coisa pode se tornar presente, mas quero falar tão somente do presente assustador, nausíaco, angustiante, de Sartre.

domingo, 5 de julho de 2009

Um Tu pelo Cachoeira

Caminho parado entre o amarelo
disponho do vermelho
fito-te eremita!
e os "outros" tiram os olhos.
Na corrente pestilencial,
o branco come
jorrado pelo herói
o corvo sempre consome.
Logo à frente a rosácea dissipa
esgana o que a supremacia não quer
o único que não enche a barriga
é um eremita qualquer.
Homem heróico de barro
agora vira metal
para um dia poder comer
o que deus joga no quintal.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sei que abandono na escuridão a possibilidade de pensar algo. Crível, mas vil.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Encíclicas - I

Regula-mori

Régulo a regrar, rangendo o rango.
Uma régua passada na linha da fome
me impede o dinheiro de comer o nome.
Léguas a alegrar, sangrando langor,
a dor de uma ânsia em sorver que os outros,
ao fim, negam poder ter.

A presença não serve.
É só uma má verve de gente imberbe
à força de se falsear na janta!

Pois fome é uma benesse aos olhos
e grandes sombras feéricas atropelam
a regra da pavimentação:

O piso não serve!
É já piada ter chão!

um ponto de Eru e Dito

Jacson
Capital enlatado, corpo saturado

Sidney
Democracia demoníaca, em demônios abstratos:
cabeça capital que confirma bons monstros lá.

Jacson
Carpindo o capital capitarei a decapitação

Sidney
Afinal livre de cabeça saem do corpo as idéias
forçado que se vê falar enlatado e em suturas...

Jacson
Dez bostada a banda ira bala lança

Sidney
Crua idade com bicho grande, bicho grande chorão...

sábado, 27 de junho de 2009

A terra canta em direção à lua.
Um som sublime que só os loucos conseguem escutar.
Os lobos e os santos reconhecem a sinfonia de coisas,
que ligam os desajustes do mundo
num jeito único de contemplar.
Santos são os tem medo em frente ao espelho
e loucos são os que conseguem parar.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pró, vá de Tica

Sei que as portas não trancam a(`) noite,
que os dentes não fazem fadas,
e os monstros comem gente.
E os outros?
Os anjos
engolem indigentes
Agora no fim, na raiz
no frio de desejar a carne
eu sai...
Da ética e profissão
Quero o imoral e a imensidão.
Do jornalismo e futuro
Quero a baixaria e o passado.

Quero a morte que do rosto teu cai!

Nova cara, novos atores e novos autores

O Lente ganha caras novas e passa a enxergar melhor a partir de agora. Deixou a miopia de lado e segue, tateando, em busca de passos menos sóbrios e concisos. Passa a ser um boêmio a procura do melhor lugar para se estar só na madrugada da chuvosa mediocridade.

Segue-se assim, não mais uma linha, e sim uma teia repleta de predadores, ou melhor escritores, que nada mais querem do que ser ninguém e estar além do que se pode esperar.
Boa sorte às poesias, aos aforismos, às crônicas e toda a espécie de manisfestação casual e permanente de literatura. Deixam de ser um pedaço de carne neste espaço e se tornam as mais nobres manifestações de humanidade.

Para nós, pessoas comuns, sentir e degustar boas palavras, boas ideias e péssimas intenções.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Aforiotopia Literária"

Como algo que traz a simplicidade e a complexidade, ao mesmo tempo, o aforismo tem sido uma boa lente para se discutir e criar literatura. Mais do que qualquer coisa, a riqueza metafórica usada para moldar uma frase faz com que o estilo seja peculiar e exija muita interpretação do leitor.
Há quem tenha estômago para tanto e os indigestos. O que importa é a sinfonia de coisas se arranjando para dar continuidade às atividades do Lente, que seguirá cada vez mais literário.
E para não perder a oportunidade:

"As grades de estanho aguardam tornar-se galinhas."
Sidney de Azevedo

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Inesperado

Vivo num aquário cercado por gafanhotos de metal.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Aforismia

Acho que já é hora de criar um manifesto artístico... Aí está meu mais recente aforismo literário:

Um percevejo não se sente à vontade para escalar a unha enquanto percebe espiar do alto uma cabeça pétrea.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ainda na linha dos aforismos

Não quero ser a única neste espaço a ditar frases curtas. Busquei então na internet alguns autores e gostei do que publicou a escritora catarinense, e colega de jornalismo, Jessikha Todt.

"Eu atropelei a sombra do pássaro".

Saio eu agora, em busca de novos ditadores, de palavras. Ok?

Regra

Aforismo é a arte de deixar as páginas em branco. Lá no final, dita-se:"meu cinismo ainda é maior".

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Já que não tenho aforismo...

Pensei seriamente em trazer um aforismo a este blogue, mas por raiva de mim próprio, insto em pôr um trecho de A náusea, de Jean-Paul Sartre, uma tentativa extremamente bem sucedida de mostrar que existencialismo não depende, necessariamente, de conceitos abstratos, e sim de sensações, que, sejam lá como forem interligadas, nos fazem conhecer a nós próprios e o pouco que resta a saber do mundo.

"Mas sucede que me aborreceram demais com esse tipo de coisa em minha juventude. No entanto eu não pertencia a uma família de profissionais. Mas existem também os amadores. São os secretários, os empregados de escritório, os comerciantes, os que ouvem os outros no café: sentem-se inflados, ao se aproximar dos quarenta anos, por uma experiência a que não podem dar vazão. Felizmente fizeram filhos e obrigam-nos a consumi-la ali mesmo. Gostariam de nos fazer acreditar que o passado deles não se perdeu, que suas recordações se condensaram, convertendo-se suavemente em Sabedoria. Cômodo passado! Passado de bolso, livreto dourado cheio de belas máximas."

Toda descrição é cínica. E tentar descrever o cinismo que essa revelação nos provoca é só um pouco menos cínico.

"'Acredite-me, estou falando por experiência, tudo o que sei foi a vida que me ensinou.' Teria a Vida se encarregado de pensar por eles? Explicam o novo pelo antigo - e o antigo, eles o explicaram pelos acontecimentos mais antigos ainda, como esses historiadores que fazem de Lênin um Robespierre russo e de Robespierre um Cromwell francês: no fim de contas, nunca entenderam nada de nada... Por trás de sua importância adivinha-se uma preguiça melancólica: vêem desfilar aparências, bocejam, acham que não há nada de novo no mundo. 'Um velho maluco' - e o Dr. Rogé pensava vagamente em outros velhos malucos, sem se lembrar de nenhum em particular. Agora, nada do que o Sr. Achille fizesse nos surpreenderia: já que é um velho maluco!"

Já que é um velho maluco. Já que. É uma expressão de definição. E arbitrária. Pois está na mão de outrem decidir o que será algo. E nos altera a percepção das coisas conforme queiramos. Dá-nos poder e no-lo tira, como se não existisse. Mas espanta que seja cínica na construção da verdade, a fazer dela algo, e não nos permitindo conhecê-la.

"Não é um velho maluco: tem medo. De que tem medo? Quando queremos entender alguma coisa, colocamo-nos diante dela, sozinhos, sem auxílio; todo o passado do mundo de nada adiantaria. E depois ela desaparece e o que pudemos entender desaparece com ela."

Medo de acertar os ponteiros... E só.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Transeunte

Uma mão que aquece o tempo e faz brotar têmporas do vento.
No entanto, a fosforescência na terra mostra a perfeição dos vermes.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Vago

O vento sopra, levando consigo o último grão de poeira que aqui habitava. Não há mais resistência.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Aqui do lado e poucos viram...


Uma das mais velhas tradições literárias é a do chamado trovadorismo ibérico. Sem início definido, eram canções, e por isso sua forma "textual" é a poética - só a título de comparação, em muitas músicas do sertanejo dito de raiz é comum associar o versar em música à poesia (noção que a escola de vertente acadêmica faz questão de nos extraviar a não ser no caso da ópera). As temáticas eram veramente prosaicas (quase sempre episódicas) e tinham um universo limitado, permanecendo na vila onde eram criadas, falando desde acontecimentos curiosos, nojentos e engraçados sem personagens até biografias de personalidades (não propriamente pessoas "poderosas", veja-se bem) do local.

Pretendo apresentar aqui um grupo de estrofes de poesias de pessoas que moraram na região do vale do rio Itapocu entre 1920 e 1960 que apresentam características surpreendentemente similares às do trovadorismo ibérico. Pode ser que algum estudante de letras venha cá me chamar de herege por pôr poesias "prosaicas" ante o trovadorismo, mas acho que esse também foi um movimento natural da literatura, assim como em todos os lugares as pessoas contam umas às outras historietas para passar a noite.

A maior parte não tem título, e se disponível data e autor, serão colocados abaixo:

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"Pegaram o santo pelos pés
E afundaram na aguardente
Tomaram três santantonhadas
E lá ficaram indolentes"
Antônio Caetano (Limoeiro) - sem data

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"Um roubo de vacas se deu
Lá pros lados de São João
Só conseguiram decidir
Quem lá ia pra prisão"
Marta Sousa (Porto do Itaperiu) - 1932

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"Era gente inocente
Os que foram pra Cadeia
E o Chico comprou a guarda
naquela mesma sexta-feira

'Compra não, Chico!'
Gritaram lá da cela
'E vão soltar vocês
Sem nova fivela?'"
Antônio Caetano (Limoeiro) - 1932, sobre o mesmo fato da poesia acima.

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"Aqui tem igreja pra branco
E também igreja pra preto.
Escola, hospital e cartório
Tudo dança no mesmo coreto."
Cecília Ramos (São João) - 1922, sobre uma condição social da vila.

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Talvez seja reflexo do momento Suassuna que vivo, mas gosto cada vez mais destas poesias.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Esquivo

Porque sou ente?

Deixo correrem as sombras de dentro para fora de casa. Deixo choco o café para amanhã. Decidi não ter o direito de sorvê-lo quente, como todos fazem. Privo-me então, por companhia, do açúcar. E age o vento lá, a correr sem ter porque.

Sidney de Azevedo
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Deixo que minha voz sem corpo seja emitida. Aguá seca a escorrer mergulha entre meus olhos. Privo-me da carne antes farta. A cama aprisiona-me. Curta chuva de domingo. E eu sem gazua.

Jacson de Almeida

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Deixo que as palavras me prendam. Libertam-me enquanto sentem.
Mais humanas do que as sombras e mais cruéis do que o sol.

Gisele Krama

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um alerta...

Águias não caçam moscas...

Quel horrare!

Mamãe, como escrever sobre um sentimento sem ser necrófilo? Explique-se... É que o sentimento é uma idéia que morre transposta em ser palavra. Se seguires a lógica... Não quero saber de lógica!, quero conhecer o mundo e saber se dele posso ter algum sentimento. Não o compreendo... Deixe para lá!, ninguém entende.
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Anômalos

Jessikha W. Todt

Me revolta a falta de ação,
Então lhe entrego a faca e peço que corte minhas mãos.
O sangue que suja não voltará às veias.
As veias secam.
Nada se altera.

As mãos apodrecem na calçada.
O fedor entorpece.
A náusea beira alucinação.
Os que passam fingem não sentir,
E os que sentem parecem que não passam por ali.
Nada se altera.

O tempo faz desaparecer a carne.
Os vermes se transformam em lindas moscas, e voam até outros mortos.
Os restos, os ossos, são arrastados pelos vira-latas.
Agora são brinquedos de cãezinhos famintos,
Perdidos em todas as esquinas
Roendo, roendo os últimos vestígios.
Para sempre esquecidos.
Nada se altera.

E um corpo sem mãos caminha.
As veias secas.
A boca muda,
Grita por onde passa com a voz do silêncio que acusa,
Os mutantes sem ouvidos,
Os mutantes sem olhos,
Caminham com as mãos intactas nos pulsos.
As veias inchadas de vermelho.
Mutantes possuem muitas veias,
Prontas para explodir.
A hipocrisia famélica rondando,
Amimando os mutantes envelhecidos
Que lembram alegremente do passado longínquo,
E esperam ansiosamente por um futuro imprevisto.
Nada se altera.
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Uma campa aguarda a apatia. Mas a apatia não vem, só deixa corpos aí no seu futuro lugar antes do final juízo...

Aquila non captat muscas.

Ponto

O que é ser marginal senão estar fora da cogitação comum? Tornar marginal o espaço público é o meio de quebrar a propriedade privada, que é só o que força à necessidade de um lugar onde as idéias possam conviver sem limites. Democracia? Só o próprio pensamento naquele que pensa.
Poesia que se limita a ser bela esgota-se num abstraccionismo vulgar. É preciso tornar marginal o que é igual, previsível e tranqüilo demais. À margem, o espaço público é uma sombra maldita, uma alcova onde se articulam as forças de repressão sobre o pobre que quer, tão-só, gritar e chorar!
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O soldado, com sua perna na cabeça, luta para sobreviver
Sabe das idéias da marcha lenta
Eu, com a caneta na mão, luto para cair
Os soldados descem o abismo para chegar a mim
Longe se anda com a perna na cabeça
No lugar dos pés as mãos
Ele anda sobre minha corda
Nem medo, nem sonho sente suas lembranças
Tanto faz se hoje estou morto sem pernas
Fica tudo assim sem sonhos

Jacson de Almeida
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Debater-se e não se querer salvar ao direito de uma vida comum de padre sem espiritualidade, de poeta sem sentimentos, de ator sem expressão, de amante rancoroso, de filósofo sem sonho... Estar sem pernas não é o problema. É-o, e grave, não poder gritar, por ter sobre o pescoço um pé inexorável.

Absente vino, nulla tunc adest Venus.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Enfoque

Todas as palavras vomitadas são sintomas da inércia mental. Entre o vazio de sinapses e falta de atitude ilícitas.

Uma poeira não é problema

Mesmo fora da ordem aforismo é, todavia, literatura.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Perdoem-me a devassidão do espaço

Encontro-me num escombro de retóricas. Nem Baudelaire entenderia.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Aqui jaz uma mosca

sábado, 23 de maio de 2009

Na mesma insanidade

Das palavras nada lineares de Fernanda Leal é possível notar uma loucura ríspida, um pouco disfarçada pelas belas palavras, mas que ousa gritar mais alto do que se lê. Afinal, nada mais do que uma gritaria momentânea, embalada pelos curtos versos,e que incomodam muito quem ainda não aprendeu a enteder o indivíduo como único e solitário. Deleitem-se:

"Eclode minha terceira guerra
escombros,
mutilações,
verificações táteis,
ombros,
poeira,
cinzas,
gris.
E o mesmo céu azul."

E ainda neste patamar de anseios e esquizofrenia é que se aponta a mais "lúcida" das razões, ao se analisar os regrados e enclausurados homens do nada.

"Tenho medo dos que páram quando atravesso a rua".

Para alimentar estas desconexas ideias que compõem uma história de agravos e subjetividades, entrego-vos:

"Filetes nervosos, remédios paralisantes.
Anestesio o descontrole dos outros.
Mais um, por favor."

Sinto-me uma humana medíocre depois disto.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sobre orquídeas e valquírias

"Ela vestiu as suas velhas botas e andou
pegou sua arma sob a mesa e atirou na porta
mostrou-se importante diante da parede
e sorriu para a cama que ali estava.
Escutou pela última vez seu CD favorito e o quebrou.
Não gosta de falar por si só e não é a dona das respostas.

Achou que conseguiria quebrar o teto que estava acima.
Virou-se para a janela e deu seu último sorriso feliz
a tristeza é bem vinda agora.
Andou até as escadas que a levariam a porta das lembranças.

Lá fora estará melhor, pois o sol fará sombra e a chuva aquecerá.
Ela não lembra mais sobre sua vida...
Será que os antigos monstros não a farão mais feliz?
Um copo de água para matar a sede e um abraço para enxugar o suor.
O deserto de água possui ilhas de areia."

Por Jacson de Almeida

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vem aí a 4ª edição do Prêmio Viva Leitura

Os Ministérios da Educação e Cultura abriram as inscrições para o Prêmio Viva Leitura 2009. O objetivo é reconhecer e estimular ações voltadas para a difusão da leitura. Os projetos devem se enquadrar nas seguintes categorias: Bibliotecas Públicas , Privadas e Comunitárias; Escolas Públicas e Privadas; e ONGs, pessoas físicas, universidades/faculdades e instituições sociais.

Serão avaliados a originalidade dos trabalhos, os resultados efetivos e o potencial de impacto, além dos recursos utilizados, a duração e a abrangência do projeto. As inscrições podem ser feitas no site www.premiovivaleitura.org.br até o dia 24 de julho.

Novos leitores


Acabei de receber um e-mail da CBL, isso mesmo, CBL(Câmara Brasileira do Livro) divulgando dados de uma pesquisa que aponta as crianças como maior público de leitores do Brasil. Você aí, que está vendo este blog, se não consegue ler mais do que 6 livros por ano, tenho uma péssima notícia para te dar: você lê menos do que uma criança de dez anos. Realmente, os pirralhos estão apavorando. Confira o texto enviado pela CBL.

Crianças são o principal público leitor do país

As crianças são o principal público leitor no Brasil de hoje. Pelo menos, é o que demonstra um levantamento coordenado pelo Observatório do Livro e da Leitura (OLL), com base nas estatísticas reunidas na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2008.

A pesquisa foi elaborada ao longo de 2007, com base nos depoimentos de 5.012 pessoas ouvidas em todo o País.

Isso significa que os dados não são inéditos, mas a maneira de interpretá-los, sim. Como o OLL selecionou especificamente as informações relacionadas ao hábito de leitura das crianças, as conclusões obtidas são as seguintes:

Crianças de 5 a 10 anos - Leem em média 6,9 livros por ano, e 51% delas o fazem por prazer. Crianças de 11 a 13 anos - Leem em média 8,5 livros por ano, e 55% delas o fazem por prazer.

Outras informações relevantes são destacadas. Uma delas diz respeito à maneira como os livros chegam às mãos dos pequenos: a biblioteca é o principal meio de acesso aos livros, atendendo 38% do público de 5 a 10 anos e 49% dos maiorzinhos (11 a 13 anos).

A importância de dar o exemplo também é destacada. Dois em cada três leitores adultos se recordam dos pais ou adultos envolvidos com livros em casa, enquanto aqueles que se criaram em lares pouco afeitos à leitura nunca desenvolveram o hábito.

Você sabe por que o maior prêmio de literatura do Brasil se chama Jabuti?




E o Jabuti não perde o ritmo...



A escolha do Jabuti para simbolizar o principal prêmio literário do Brasil foi feliz em inúmeros aspectos: o animal é tipicamente brasileiro, tem fama de sábio nas tradicionais histórias indígenas e personifica a longevidade.

No entanto, o jabuti é bicho vagaroso, e nesse aspecto ele se diferencia bastante do Prêmio para o qual empresta o nome.

Em seus 50 anos de existência, o Jabuti nunca parou de crescer. A cada edição, mais e mais obras são inscritas. O desempenho das últimas três décadas é o que mais impressiona: de 1980 a 1990, o número de inscrições praticamente dobrou, e de 1990 pra frente, o Jabuti deslanchou de vez, chegando aos 1500 inscritos em 1999.

No ano de 2003, foi a vez do Prêmio ultrapassar as duas mil inscrições, e em 2008, chegou a 2300, com a participação de 90 editoras.

Esses números ganham ainda mais força e sentido levando-se em conta que as editoras aumentaram a quantidade de obras inscritas e, ao mesmo tempo, refinaram suas estratégias em relação ao Jabuti.

Muitas editoras continuam a inscrever livros em quase todas as categorias. Outras optaram por investir mais em menos, ou seja, mais obras em menos categorias, e algumas passaram a focar apenas algumas categorias, de modo a ampliar suas chances de premiação e, desse modo, reforçar o catálogo e as vendas.

Independentemente das estratégias, uma coisa é certa: com 51 anos de idade, o Jabuti é um exemplo de força, longevidade e vigor!

Fonte: Câmara Brasileira do Livro

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Prêmio Jabuti de Literatura

Encerram no final de maio as inscrições para 51º Prêmio Jabuti de Literatura. Serão avaliados autores em 21 categorias, que incluem tradução, reportagem, projeto gráfico, educação, psicologia e psicanálise, e pela primeira vez, será premiada também a melhor tradução em francês, em homenagem ao ano da França no Brasil.
Mais informações no site www.premiojabuti.org.br

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Preço único de livros

Bisbilhotando o site do Ministério da Cultura (Minc), deparei-me com um release interessante na sala de imprensa. Há uma proposta rolando na Câmara dos Deputados para fazer um preço único dos livros no Brasil. Ou seja, a obra que custa R$ 10 no Acre vai ter que ser vendida pelo mesmo preço no Rio Grande do Sul.

Como todo o projeto que envolve dinheiro, já vieram várias classes protestaram. O Sindicato Nacional de Editores de Livros se manifestou contrário à medida. O interessante é ressaltar que por enquanto as lojas e revendoras de livros não se posicionaram. Somente as editoras é que reclamaram do assunto.

Um dos principais problemas que pode, ou vai, boicotar o projeto é a diferença de ICMS entre os estados. No Nordeste, por exemplo, é de 7% e em Santa Catarina, 17%, maior imposto do Brasil. A situação de incompatibilidade tributária provavalmente vai frustar as "boas intenções" do Ministério da Cultura.

E você, o que acha disto? O preço do livro está realmente caro? Prefere comprar em Sebos em vez de livrarias?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Procura-se um poeta

Para você que cultiva palavras em um caderninho jogado numa gaveta ou que esconde palavras soltas em algum canto, num pedaço de papel: tenho uma dica quentíssima. Acabei de receber um e-mail da FLIP sobre uma oficina de literatura. A Oficina Literária terá como tema principal a poesia. As três melhores criações serão publicadas numa revista.

As inscrições vão até 21 de maio. Mais informações no site www.flip.org.br

E por falar em concurso, bem que poderíamos fazer uma mostra com escritores de Joinville ou do universo Ielusc. Algo que fosse do bizarro ao sensacional. Prometo pensar em algo...

sábado, 9 de maio de 2009

Obras e prêmios de Bell

Os Póstumos e as Profecias. São Paulo: Massao Ohno, 1962.
Os Ciclos. São Paulo: Massao Ohno, 1964
Convocação. São Paulo: Brasil, 1965.
Curta Primavera. São Paulo: Brusco, 1966.
Tarefa. São Paulo: Papyrus, 1966.
Antologia Poética de Lindolf Bell. São Paulo: União, 1967.
Antologia da Catequese Poética. T. Paulista. São Paulo, 1968.
As Annamárias. São Paulo: Massao Ohno, 1971.
Incorporação. São Paulo: Quiron, 1974.
As Vivências Elementares. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1980.
O Código das Águas. São Paulo: Global, 1984.
Setenário. Florianópolis: Sanfona, 1985.
Texto e Imagem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1987.
Pré-textos para um fio de esperança. BADESC. Florianópolis, 1994.
Iconographia. Editora Paralelo: 1993.
Requiem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1994.


Prêmios recebidos:

Prêmio Governador do Estado, em 1983, São Paulo.
Prêmio de Poesia, pelo livro Código das Águas, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1984, São Paulo. (Dados obtidos no site do autor e no do Itaú Cultural)

Fonte www.releituras.com

O poeta de Santa Catarina


Lindolf Bell nasceu em Timbó (SC) no dia 02 de novembro de 1938. Em 1944, sua mãe iniciou sua alfabetização em alemão. De 1945 a 1952 estudou em sua terra natal Em 1953, matriculou-se no Curso Técnico em Contabilidade de Blumenau, concluído em 1955. Voltou a Timbó. Em 1958, serviu à Polícia do Exército. Em 1959, no Rio de Janeiro (RJ), estudou Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, curso que não completou. No ano seguinte, retorna a Timbó. Em 1962, iniciou seus estudos no Curso de Dramaturgia na Escola de Arte Dramática de São Paulo, no qual se formou em 1964.

Publicou seu primeiro livro de poesia, Os Póstumos e as Profecias, em 1962. Participou de diversos eventos: na Expressão de Novos Poetas, com poemas-murais, na biblioteca paulistana Mário de Andrade; do Movimento da Catequese Poética; foi autor do roteiro cinematográfico A Deriva para o filme experimental de Juan Seringo; declamou poemas no Show Contra, no Teatro Ruth Escobar, São Paulo SP. Em 1968, viajou para os Estados Unidos, onde integrou o grupo brasileiro no International Writing Program, na Universidade de Iowa. No seu retorno, passou a viver em Blumenau, onde foi professor de História da Arte na Fundação Universidade Regional. Participou na I Pré-Bienal de São Paulo, em 1970, com poemas-objetos.

O autor faleceu no dia 10 de dezembro de 1998, na cidade de Blumenau (SC).


Fonte http://www.releituras.com

terça-feira, 5 de maio de 2009

Receituário de uma boa crítica

Algumas lições do professor Swift


Um simples diário de viagem. É coisa pouca de se levar como bagagem. Mesmo que em uma rima inexpressiva e incômoda se encontre com o pesado fardo da imaginação.

"Uma das mais debochadas e irônicas críticas é um diário de viagem! Como é possível em meio a tantas epopéias, a não sei quantos trovadores, a condições tão mais ilustrificadas da literatura sobressair-se um diário de viagem, e pior: um diário de bordo? Como fica nosso ilustre Morus?"

Pois é. Os críticos de literatura da Inglaterra do século XV usavam exclamações como estas para demonstrar sua indignação com Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Os irlandeses, conterrâneos do autor, só podiam uma coisa: rir-se.

Mas é preciso lembrar que trovadorismo é obra de menestréis populares, exatamente como hoje nos é ofertada a literatura de cordel do Nordeste, as quadras populares de Portugal, e como poderiam ser as infelizmente extintas quadrinhas de riso do Vale do Itapocu..., e que mesmo epopéias já foram simples cantigas populares. Outro detalhe: Morus, crítico sisudo do sistema econômico e político inglês, não usava de sua formação de advogado para fazer literatura, mas sim para fazer demonstrações retóricas, às vezes como transcrição de diálogos ocorridos na vida real.

Mas não é difícil ver que a reacção dos críticos ingleses a Swift seria a mesma de um brasileiro que lê o português europeu escrito ou a de um português ao ler a "última flor do Lácio, inculta e bela" americanizada.

Alguns trechos de Viagens de Gulliver, de Swift, para se poder entender a reação dos críticos.


Da política:

"Certo dia resolveu o imperador levar-me para assistir a um espetáculo muito divertido e apreciado em Lilipute, no qual realmente os habitantes lá são verdadeiros mestres.
A diversão, praticada somente pelos que pretendem altos cargos na corte, é a seguinte: dar pulos e saltos mortais equilibrando-se em uma corda bamba bem afastada do solo. Apesar de ser uma arte perigosíssima, pois, ante qualquer descuido, o infeliz despenca e pode quebrar os ossos, mesmo assim é praticada desde a juventude pelos liliputianos dotados de ambição.
Quando algum alto posto na corte fica vago por demissão ou morte de seu dono, apresentam-se imediatamente cinco ou seis ambiciosos ao imperador: estende-se então uma corda meio frouxa e um por um dança e pula até cansar. O que pular mais alto e fizer mais acrobacias sem cair obtém o cargo."


Das leis:

"Em Brobdingnag, nenhuma lei pode exceder em palavras o número de letras do alfabeto local, que são apenas vinte e duas. Escritas de forma clara e simples, não há perspicácia que consiga descobrir nelas mais de uma interpretação."

"[O rei de Brobdingnag sobre as Câmaras inglesas] - Tais lordes conhecem em profundidade as leis do país? Estão livres da avareza , da parcialidade e das necessidades? A meu ver, só assim resistirão ao suborno pelo qual são provavelmente tentados."


Da religião

"[Ainda o rei de Brobdingnag] Quanto aos santos varões de que falou - os bispos -, nunca serviram simplesmente aos interesses políticos de algum nobre ou foram tolerantes com as baixezas da aristocracia?"


Da ciência

"O primeiro desses sábios que visitei [na academia de Lagado] era magro, tinha cabelos e barbas compridos e desgrenhados, mãos sujas e roupa sapecada em vários pontos. Suas calças, camisa e pele eram todas da mesma cor.
Havia oito anos que estudava um projeto para extrair raios de sol dos pepinos.
'É assim - explicou-me, coçando vigorosamente a cabeça - : colocam-se os pepinos em redomas hermeticamente fechadas, mantendo-as no ar livre nos verões mais crus e abrasadores. Sinto a cada dia uma concentração maior de calor e não duvido de que, dentro de uns oito anos, poderei fornecer luz solar aos jardins do governador a um preço razoável.'"


Do comportamento

"[Gulliver explica a bebedeira para seu amo cavalo Houyhnhnm] Trazemos vinho dos outros países não porque nos falte água ou mesmo outras bebidas, e sim porque o vinho afasta as idéias tristes, tornando-nos alegres; produz mil fantasias no cérebro, expulsa nossos temores e fortalece a esperança, amortecendo o raciocínio até apagá-lo por completo durante algum tempo. Caímos então num sono profundo, do qual, é bem verdade, acordamos indispostos e desalentados. O uso continuado dessa bebida nos enche de doenças e torna nossa vida breve e incômoda".


E Viagens de Gulliver ainda é, para muitos, literatura infantil, ora essa!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

China na FLIP

A literatura chinesa marca presença na FLIP, pela primeira vez, com a vinda da jornalista Xinran e do romancista Ma Jian, que dividem mesa em Paraty. Xinran é autora, entre outros, de As boas mulheres da China (2002), no qual reuniu depoimentos de mulheres vítimas de violência, obtidos num programa de rádio criado pela escritora na década de 1980. Ma Jian utiliza-se da ficção para falar de seu país, caso de Pequim em coma (2008), escrito em primeira pessoa por uma vítima fictícia do massacre da Paz Celestial.

Fonte: Site da FLIP.

domingo, 3 de maio de 2009

Ielusc na FLIP

E os pré-jornalistas ielusquianos não poderiam perder a maior festa literária Brasil. Além do mais, o mestre do jornalismo literário, Gay Talese, comparecerá no evento.

Para os joinvilenses que não querem perder a excursão, devem entrar em contato com a Manu no e-mail emanuellecarvalho@gmail.com

Lembrando que o prazo de inscrições é até terça-feira.

Fora isto, meu recado está dado. Não percam!Ah, Chico Buarque também estará na festa.

Hesse

"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo." Hermann Hesse

O escritor nasceu na Alemanha, mas naturalizou-se suíço em 1923. Foi ganhador do prêmio Nobel de Literatura, em 1946, e no mesmo ano recebeu o prêmio Goethe.

Em suas obras, traz elementos espirituais baseados na experiência na Índia e da Psicologia Analítica, com um dos discípulos de Jung. Seus livros mais conhecidos são: Demian, Sidarta, O Lobo da Estepe e O Jogo das Contas de Vidro.

sábado, 2 de maio de 2009

Acontece

'Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.
Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.
Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.
Que entrevista espaçosa e especial!"

Pablo Neruda

Porque as conversas mudas, as solidões e os silêncios dialogam entre si.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um cordel para a noite

Figuras personificadas maiúsculas se tornam como as Miragens sertanejas ao Povo. Estes Monstros invisíveis aos que de longe só seu Olhar dão, incapazes são de Isto entender, que a duas Artes une, as letras aos rébus de almanaques. Fica aí nossa lembrança breve, uma poesia e uma paródia:


Dizem que uma Sombra escura
com duas Pontas na testa,
por onde o Donzel caminha,
ao lado, se manifesta.
Desde a Cadeia onde o Moço
na Morte foi sepultado,
esta Sombra cornipeta
caminha sempre a seu lado.
Como irmã-de-caridade
seguindo o jovem Defunto,
o Carcará de chavelhos
vai sempre ao Mancebo junto.
O Doutor, luz verde-escura
da Cidade dos Pés Juntos,
Lampra acesa dos Jazigos,
fogo-fátuo dos Defuntos.
O Donzel, estrela errante,
facho dos Lumes eternos,
ouro do Sol, Desafio
às negras chamas do Inferno.
O Doutor, vela de sebo,
sinal dos Magos errôneos,
Lume lúgubre da Morte,
lampadário do Demônio.
O Donzel, lustre e Candeia
que o Sol do sangue espadana,
carne cravada de Estrelas,
Coroa da raça humana!

Amador Santelmo (Vida, Aventuras e Morte de Lampião e Maria Bonita)

Creio em Getúlio Vargas todo-poderoso,
Criador das leis trabalhistas
Creio no Rio Grande do Sul e no seu filho
Nosso patrono, o qual foi concebido
Pela Revolução de 30
Nasceu de uma Santa Mãe
Investiu sobre o poder de Washington Luís
Foi condecorado com o emblema da República
Desceu ao Rio de Janeiro ao terceiro dia
Homenageou os mortos, subiu ao Catete
E está hoje assentado em São Borja
De onde há de vir e julgar
O general Dutra e seus ministros
Creio no seu retorno ao Palácio do Catete
Na comunhão dos pensamentos
Na sucessão do presidente Dutra
Por toda a vida,
Amém.

Cuíca de Santo Amaro


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Duelo de escritores

Já está na 52ª rodada a iniciativa de cinco escritores catarinenses. Nenhum deles tem livro publicado e criaram um blog para desenvolver seus textos. O modelo de produção textual é marcado por comprometimento com um ritmo de produção textual que exige uma criação literária a cada dez dias (o que não espanta, pois há três jornalistas; os outros integrantes são um publictário e um biólogo, que estudaram na Furb). E, sem mais suspense, o blog se chama Duelo de Escritores. E não se trata bem de um duelo, talvez de um "quintelo"... O autor vencedor da última rodada determina o tema. Então eles têm cinco dias para escrever e postar, e outros quatro para votarem nos textos uns dos outros e receber votos do público. E a atual rodada já está em fase de votação, sendo o tema "continuação de um conto", o conto Invisível, de Rodrigo Oliveira, um dos integrantes do blog.
Fica um vídeo da Furb TV aqui para ajudar a entender o projeto:

A felicidade de Baudelaire

"O bom senso nos diz que as coisas da terra não existem inteiramente e que a verdadeira realidade só é encontrada nos sonhos. Para digerir a felicidade natural, como a artificial, é preciso, antes de tudo, ter a coragem de engoli-la e os que talvez merecessem a felicidade são justamente aqueles a quem a felicidade, tal como a concebem os mortais, sempre teve o feito de um vomitivo."

Paraísos Artificiais - O Ópio e Poema do Haxixe (Charles Baudelaire)

domingo, 26 de abril de 2009

Biografia de Tezza

Cristovão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1952. Em junho de 1959, morreu seu pai; dois anos depois, a família se mudou para Curitiba, Paraná.

Em 1968 passou a integrar o Centro Capela de Artes Populares (CECAP), dirigido por W. Rio Apa, com quem trabalhará até 1977. Ainda em 1968, também participa da primeira peça de Denise Stoklos, e no ano seguinte de duas montagens do grupo XPTO, dirigido por Ari Pára-Raio, sempre em Curitiba.

Em 1970 concluiu o ensino médio no Colégio Estadual do Paraná. No ano seguinte, entrou para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (RJ), desligando-se em agosto do mesmo ano. Em dezembro de 1974, foi a Portugal estudar Letras na Universidade de Coimbra, matriculado pelo Convênio Luso-Brasileiro, mas como a universidade estava fechada pela Revolução dos Cravos, passou um ano perambulando pela Europa.

Em janeiro de 1977, casou-se. Em 1984, mudando-se para Florianópolis, Santa Catarina, trabalha como professor de Língua Portuguesa da UFSC. Voltou a Curitiba em 1986, agora dando aulas na UFPR, onde leciona até hoje.
Em 1988 publicou Trapo (Brasiliense), livro que tornou seu nome conhecido nacionalmente. Nos dez anos seguintes, publicou os romances Aventuras provisórias (Prêmio Petrobrás de Literatura), Juliano pavollini, A suavidade do vento, O fantasma da infância e Uma noite em Curitiba. Em 1998, seu romance Breve espaço entre cor e sombra (Rocco) foi contemplado com o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional (melhor romance do ano); e O fotógrafo (Rocco), publicado em 2004, recebeu no ano seguinte o Prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor romance do ano e o Prêmio Bravo! de melhor obra.

Sua tese de doutorado (USP), Entre a prosa e a poesia - Bakhtin e o formalismo russo, foi publicada em 2002 (Rocco). Também na área acadêmica, Cristovão Tezza escreveu dois livros didáticos em parceria com o lingüista Carlos Alberto Faraco (Prática de Texto e Oficina de Texto, editora Vozes), e nos últimos anos tem publicado eventualmente resenhas e textos críticos na revista Veja e nos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de São Paulo .

Em 2006, assinou contrato com a Editora Record, que começou a relançar sua obra. Em julho de 2007 foi publicado seu novo romance O filho eterno, e foram reeditados, com novo projeto gráfico, seus romances Trapo, Aventuras provisórias e O fantasma da infância.

Em dezembro de 2007, o romance O filho eterno recebeu o Prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de melhor obra de ficção do ano. Em 2008, recebeu os prêmios Jabuti de melhor romance, Bravo! de melhor obra, Portugal-Telecom de Literatura em Língua Portuguesa (1° lugar) e Prêmio São Paulo de Literatura, melhor livro do ano. O romance foi lançado na Itália pela editora Sperling & Kupfer (tradução de Maria Baiocchi), em Portugal, pela editora Gradiva, e já tem edições contratadas na França, Espanha (em espanhol e catalão), Holanda, Austrália e Nova Zelândia.
Fonte: site do autor www.cristovaotezza.com.br

Escritor catarinense na FLIP


O autor Cristóvão Tezza participará da Festa Literária Internacional de Paraty deste ano. O evento inicia no dia 1 de julho e termina no dia.

Tezza também participou do encerramento da 6ª Edição da Feira do Livro de Joinville.

Saiba mais sobre o escritor no site http://www.cristovaotezza.com.br/

sábado, 25 de abril de 2009

Gay Talese na FLIP


Essa postagem é destinada aos adoradores do jornalismo literário. O grande mestre deste estilo jornalístico, Gay Talese, confirmou presença na Festa Literária Internacional de Paraty. O evento começa no dia 1 de julho e termina no dia 5. O homenageado deste ano é o poeta Manuel Bandeira.

A festa é um ícone dos eventos literários mundiais e a maior do Brasil. Para os mais interessados, podem consutar o site http://www.flip.org.br/

Ah, só para não esquecer ... um grupo do Ielusc está se organizando para ir ao evento.

Aguardem novidades!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

100 melhores livros


A Bravo! lançou a revista especial com os 100 livros essenciais da literatura mundial. A revista da editora abril trouxe menções dos textos de Homero, Shakespeare, Dante Alighieri, Proust, Baudelaire, Machado de Assis entre outros.


A edição custa R$ 14, 95 e pode ser adquirida no site da Abril Assinaturas, no link: http://www.lojaabril.com.br/

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro - 23 de Abril

Apesar do surgimento de tantas novas tecnologias, o livro ainda permanecerá muito tempo entre nós, apesar de muitos alardearem sua futura "aposentadoria". Ele ainda é a forma mais democrática e acessível de conhecimento, se considerarmos a população mundial como um todo. E, há lugar para todos, felizmente!

O dia-homenagem foi instituído pela Unesco em 1996. Ele é celebrado em cerca de 100 países, e mobiliza uma vasta rede internacional de editores, livreiros, bibliotecários, associações de autores, tradutores e muitos outros amigos da causa do livro e da leitura. É importante que se tome consciência dos benefícios econômicos, morais e cívicos da leitura, para que os indivíduos possam engajar-se na luta por um mundo melhor.

A escolha do dia deve-se ao fato que vários escritores consagrados, como Miguel de Cervantes, William Shakespeare, Vladimir Nabokov e Josep Pla, nasceram ou morreram em um 23 de abril.

O acesso à herança cultural através do livro possibilita o enraizamento do sujeito na comunidade, por dar-lhe suporte e coesão de idéias. O sentido comunitário do livro deve ser visto como prioritário, principalmente na educação das crianças, futuros cidadãos. Como em toda construção, o livro é um alicerce importantíssimo a formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

"O livro constitui um meio fundamental para conhecer os valores, os saberes, o senso estético e a imaginação humana. Como vetores de criação, informação e educação, permitem que cada cultura possa imprimir seus traços essenciais e, ao mesmo tempo, ler a identidade de outras. Janela para a diversidade cultural e ponte entre as civilizações, além do tempo e do espaço, o livro é ao mesmo tempo fonte de diálogo, instrumento de intercâmbio e semente do desenvolvimento"


História

O Dia Internacional do Livro teve a sua origem na Catalunha, uma região semi-autônoma da Espanha. A data começou a ser celebrada em 7 de outubro de 1926, em comemoração ao nascimento de Miguel de Cervantes, escritor espanhol. O escritor e editor valenciano, estabelecido em Barcelona, Vicent Clavel Andrés, propôs este dia para a Câmara Oficial do Livro de Barcelona.

Em 6 de fevereiro de 1926, o governo espanhol, presidido por Miguel Primo de Rivera, aceitou a data e o rei Alfonso XIII assinou o decreto real que instituiu a Festa do Livro Espanhol.

No ano de 1930, a data comemorativa foi trasladada para 23 de abril, dia do falecimento de Cervantes. Mais tarde, em 1995, a UNESCO instituiu 23 de abril como o Dia Internacional do Livro e dos direitos dos autores, em virtude de a 23 de abril se assinalar o falecimento de outros escritores, como Josep Pla, escritor catalão, e William Shakespeare, dramaturgo inglês.

Fonte: www.cidadaopg.sp.gov.br

terça-feira, 21 de abril de 2009

ÓCIO IMPRODUTIVO

Boa tarde, a todos aqueles que se negam a visitar a ilustre lente.

Quero dividir meu ressentimento neste quase pós-feriadão.

Nestes longos dias curti, nada mais, do que o nada. Sei que tenho milhões de coisas para fazer, mas neste vácuo não tenho forças para reunir a pouca coragem que me resta e executar tudo de uma vez. Na meia semana que me resta inventarei outro milhão de desculpas para deixar de lado este milhão de coisas que me atormentam hoje.

Vou acabar logo que esta "balela" e apresentar um cara, que eu nem bem sei o que ou quem ele é: alguém chamado Luc Gabriel.

"No limbo doce do ócio improdutivo,
Rearranjo palavras
E construo estrofes
Que justificam minha desavergonhada paralisia.
Holofotes duma ribalta descaradamente falsa
Saciam o apetite por reconhecimento,
E justificam a escrita vagabunda,
Do poema de rima fácil.
Então, que se encaminhe o sentimento impuro,
Lascivo e despudorado,
Para lambuzar-se no círculo que precede a depravação,
Inspiração maior para a poesia.
(Que não aceita choro contido,
Nem quer ouvir falar da amada,
E enxota a pieguice do sussurro
Que adorna e açula a fala.).
Dose de motivação
Buscada no mais puro requinte do pecado,
Manjar verdadeiro do gozo,
Amante da escrita casta.
É da soltura dos meus charmosos demônios
Que emana a beleza rameira dos meus versos,
A justificar a prostração dos meus dias
No vai e vem do meu doce limbo."

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O que torna uma poesia o espírito de seu tempo?

Trago uma poesia de Fernando Pessoa, de 1928, um ano antes da Grande Depressão americana e antes da formação dos estados nacionalistas e ditatoriais por Hitler, Mussolini, Franco, Salazar e... Vargas (citando os mais expressivos...). O texto está em sua forma original.

OS CASTELLOS

A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta em que se appoia o rosto.

Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

Inventei de substituir Portugal por Brasil nesse último verso. E talvez o caminho da euforia econômica até a incerteza devida à crise que se tem mostrado nos jornais me levaram ao seguinte sentido: o ocidente, finalmente, pode ser visto por terceiro-mundistas - Portugal era o patinho feio da Europa -, exatamente na hora em que jaz.
Reconheço que a minha leitura pode (quiçá deve) estar errada.
Mas são curiosas as semelhanças: o cotovelo "inglês" pode se referir à dependência do poder econômico, político e tecnológico, enquanto o cotovelo "italiano" ao cultural, tradicional e religioso. E a mão, símbolo-mor do poder, é a do cotovelo saxão; pois o outro o cotovelo fica "recuado".
Os olhos filosóficos, tristes lá, cá otimistas, observam silenciosos os seus erros. E vários são os estudiosos cuidam disso.
Será possível trocar o nome de qualquer país por Portugal? Será que a situação da modernidade consegue fazer valer essa poesia em qualquer situação? O que torna uma poesia o espírito de seu tempo?

Ele não escreve só novela


O novelista da Rede Globo Walcyr Carrasco lançou em agosto do ano passado o livro "Anjo de quatro patas - A verdadeira amizade entre um homem e seu cachorro". Neste livro o escritor Walcyr Carrasco adere à moda de falar sobre cachorros e registra os momentos mais engraçados e comoventes vividos ao lado de Uno, um cão que, além de um simples companheiro, tornou-se um verdadeiro amigo, ensinou-lhe a enxergar as pessoas de outra maneira e, sobretudo, devolveu-lhe a alegria de viver. Entre mordidas e lambidas, você irá rir e se emocionar com as aventuras desse anjo de quatro patas que renovou a rotina e os sentimentos de seu dono.

O dado que mais chama a atenção na listagem dos 10 livros mais vendidos é que 6 destes são de auto-ajuda e somente o "Anjo de quatro patas" se enquadra na literatura.

Livro está entre os dez mais vendidos pela editora Gente e custa R$ 29,90 . Mais informações no site http://www.editoragente.com.br/

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta




O imaginativo José Saramago foge, às vezes, da doce ficção e apela às mais ácidas palavras para descrever o desespero de quem vê, por aqui, os erros que não poderão ser resolvidos.

"Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme."

domingo, 19 de abril de 2009

Amores Portáteis


"Os amores infelizes são todos iguais; os felizes, são felizes cada um à sua maneira. Simples assim, de um jeito muito mais Nabokov que Tolstoi".

"Leonard Cohen está ciente de que é preciso extrair as víceras do poema. Jeff Buckley também estava. Leonard Cohen está vivo. Jeff Buckley não. "

"O amor nunca é inócuo. Nunca. A vida não é uma sitcom."

"Consulto o relógio do celular. Meia-noite e vinte. O sábado virara domingo. E eu ainda não virei abóbora."

Essas frases, com doses certas de humor ácido, são do escritor joinvilense Eduardo Baumann. Ele lançou o livro "Dois em um" com Fernanda Leal. Os trechos foram retirados de "Amores portáteis". O livro foi lançado em março deste ano.

Dois em um pode ser encontrado na livraria Midas e custa aproximadamente R$ 7.


sábado, 18 de abril de 2009

O sol e a Aquarela


Quando acordei, nesta manhã de sábado, vi um sol lindo que ousava permanecer intenso no céu. Ao ligar o computador e colocar umas músicas, logo comecei a ouvir "Aquarela", de Toquinho. A linda letra trouxe a nostalgia de um imaginário infantil que a música fez parte. Trouxe-me boas lembranças. Afinal, quem nunca cantou pelo menos um pedacinho dela quando era criança?!?

"Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...

Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)..."

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Rápida sobre idéias e explanações

Outra vez venho falar de Ariano Suassuna, mas isso é importante:

"Eu aceito, acredito até ser bom que as idéias políticas de um escritor apareçam em sua obra, mas não que ele coloque a obra a serviço das suas idéias. Porque aí ele vai fazer romance de tese ou peça de tese". (Revista Cult!, alguns anos atrás).

O que costuma tornar uma idéia desagradável é a sua apresentação. Parece ser essa a idéia do principal autor do movimento armorial. A idéia é um gesso da forma. A naturalidade que Suassuna busca nas manisfestações populares é exatamente a fuga desse gesso. Mas, talvez para este blogue, esta seja uma postagem engessada, e só uma discussão sobre literatura... Bem, aí fica a idéia. Sem decente apresentação.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Brecht e a guerra

"Não conseguireis desgostar-me da guerra. Diz-se que ela destrói os fracos, mas a paz faz o mesmo." Bertolt Brecht


Brecht foi um dramaturgo, poeta e ator alemão que se "converteu" ao marxismo. Ele trouxe para as peças de teatro discussões sobre as complicadas relações humanas no sistema capitalista e com versão dramatizada. na perspectiva marxista.

"Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram."
"Primeiro vem o estômago, depois a moral."
"O que não sabe é um ignorante, mas o que sabe e não diz nada é um criminoso."

Estes são alguns do pensamentos de Brecht.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A rosa de Hiroxima



Como ainda permanecemos no tema "poder", quero trazer as ácidas palavras de Vinícius de Moraes. Quem achava que ele era poeta boêmio e idólatra do amor, estava certo. Mas ele não é só isso. O poema "A rosa da Hiroxima" é a prova disto. Colham-no.


"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada."

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Poder e ironia

Como me empolguei com a abordagem literária do poder e sei que isto rende muita discussão, não resisti e trouxe o jornalista e sátiro alemão Ludwig Borne.

"O segredo de todo o poder consiste em saber que os outros são ainda mais covardes do que nós".

Não concordo com ele, mas posso comparar à fala de Mao Tsé-Tung que diz "o poder político nasce do cano da espingarda".

Ambos apresentam a face ruim do poder, entre covardia e armas. No entanto, o poder não se restringe à política, mas isto já é outra história.

Ainda sobre "Poder"

"Os detentores do poder ficam tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infiabilidade que se esforçam ao máximo para ignorar a verdade".
Este aforismo é do poeta e romacista russo Boris Pasternak. O autor, mais do que ninguém, sentiu a interferência direta do poder na literatura. Principalmente, quando foi impedido no ano de 1958 de receber o Prêmio Nobel de Literatura, por motivos políticos. Além disto, foi acusado pelo governo russo de subjetivismo.
A obra mais conhecida de Pasternak é Doctor Zhivago (no português, Doutor Jivago), que não pôde ser publicada na antiga União Soviética. Porém, o original foi contrabandeado e editado na Itália, tornando-se um best seller que rendeu o autor um dos maiores prêmios da literatura mundial.
Mesmo quem nunca ouviu falar em Boris Pasternak, já conhecia o Doutor Jivago pela adaptação feita para o cinema em 1965.

Boris morreu na década de 60 ser ver sua obra-prima entrar para a sétima.

sábado, 11 de abril de 2009

Ainda em Campos


Gostei quando li no prefácio do livro Obra Poética IV de Fernando Pessoa, um comentário sobre o personagem Álvaro de Campos. "Pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida".

Corajoso este Pessoa que conseguiu dar nome a uma de suas tantas máscaras.

Regresso ao lar

Descupem por demorar tanto para escrever meu comentário...mas é que fiquei perdida ao dialogar com as tantas Pessoas de Fernando, mas consegui encontrar o que queria.
Pessoalmente, odeio Sonetos. Eles têm forma fechada, pouca expressão e não me dizem nada. Mas darei uma chance para Álvaro de Campos - um dos personagem de Fernando Pessoa.

"Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância, e, nesta hora,
A minha infância é só um ponto preto,

Que num imóbil e fatal trajecto
Do comboio que sou me deita fora.
E o soneto é como alguém que mora
Há dois dias em tudo que projecto.

Graças a Deus, ainda sei que há
Quatorze linhas a cumprir iguais
Para a gente saber onde é que está

Mas onde a gente, ou eu, não sei...
Não quero saber mais de nada mais
E berdamerda para o que saberei."

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Armorial

Uma só afirmação


Ariano Suassuna, em entrevista à revista Filosofia, da editora Escala, fez essa afirmação: “Eu, a vida toda, gostei mais dos pensadores que, além de serem pensadores, escreviam bem”. Ele se referia a Platão e a Friedrich Nietzsche, embora não tenha a mesma visão de mundo de ambos. O interesse na afirmação nasce porque ela indica que certas vezes temos visões radicais do que seja filosofia ou literatura, esquecendo que, enquanto campos do saber, essas áreas entrecruzam-se constantemente*.
A classificação é sempre um meio de morte para um significado, pois quando dizemos que as obras de Suassuna querem criar uma arte erudita a partir da cultura popular nos deixamos ir por um caminho de leitura acadêmico demais…

Post-scriptum: Vivam as ênclises e os advérbios de modo!
Inda inté!