quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ponto

O que é ser marginal senão estar fora da cogitação comum? Tornar marginal o espaço público é o meio de quebrar a propriedade privada, que é só o que força à necessidade de um lugar onde as idéias possam conviver sem limites. Democracia? Só o próprio pensamento naquele que pensa.
Poesia que se limita a ser bela esgota-se num abstraccionismo vulgar. É preciso tornar marginal o que é igual, previsível e tranqüilo demais. À margem, o espaço público é uma sombra maldita, uma alcova onde se articulam as forças de repressão sobre o pobre que quer, tão-só, gritar e chorar!
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O soldado, com sua perna na cabeça, luta para sobreviver
Sabe das idéias da marcha lenta
Eu, com a caneta na mão, luto para cair
Os soldados descem o abismo para chegar a mim
Longe se anda com a perna na cabeça
No lugar dos pés as mãos
Ele anda sobre minha corda
Nem medo, nem sonho sente suas lembranças
Tanto faz se hoje estou morto sem pernas
Fica tudo assim sem sonhos

Jacson de Almeida
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Debater-se e não se querer salvar ao direito de uma vida comum de padre sem espiritualidade, de poeta sem sentimentos, de ator sem expressão, de amante rancoroso, de filósofo sem sonho... Estar sem pernas não é o problema. É-o, e grave, não poder gritar, por ter sobre o pescoço um pé inexorável.

Absente vino, nulla tunc adest Venus.

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